Aprender em sala para não ficar “endividado” em casa

Aprender em sala para não ficar “endividado” em casa

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De modo bastante simples, podemos dizer que existem dois “momentos” de estudo em um modelo escolar tradicional: durante a aula e em casa. Do ponto de vista da aprendizagem, o primeiro costuma ser mais “passivo”, pois o professor detém a centralidade do discurso e da transmissão de conteúdos. Por sua vez, o estudo em casa costuma exigir uma postura mais ativa do aluno, na medida em que o ritmo das atividades é determinado por ele mesmo.

A esse respeito, cabe-nos fazer uma ressalva no que diz respeito ao modelo da aula. Fizemos menção ao modelo didático tradicional, em que o professor conduz a turma como porta-voz da “verdade” e indutor do ritmo de ensino, devendo o aluno acompanhá-lo. Já se sabe que, sobretudo na educação infantil, esse modelo é limitado e apresenta algumas ineficiências. Em seu lugar, as mais diversas estratégias de dinamização da aula têm sido implementadas, até mesmo nas escolas mais tradicionais: jogos, projetos coletivos, sala de aula invertida, entre muitos outros.

No final do Ensino Fundamental e ao longo do Ensino Médio, porém, a flexibilidade para implementar essas ferramentas é um pouco reduzida. A extensão e a profundidade das ementas das disciplinas simplesmente “engessam” modelos mais abertos. Com tempo escasso e muitos objetivos a cumprir, as escolas ficam diante de um dilema: cumprir adequadamente o programa, sacrificando estratégias de maior participação dos alunos, OU sacrificar o programa, realizando atividades em que os alunos se tornem protagonistas?

Por um lado, ninguém nega a importância de investir no protagonismo dos estudantes e em metodologias que atualizem a escola. Por outro, pela nossa experiência, já sabemos que as cobranças por parte das famílias e dos alunos costumam ser maiores quando os conteúdos são sacrificados. Nesse sentido, uma das formas que percebemos funcionar nesse período de transição é a aposta em pedagogias híbridas.

Na prática, isso significa, principalmente para o Ensino Médio, manter um modelo ainda tradicionalista de aula, mas tentando incorporar a ele alguns elementos e táticas da educação centrada no aluno. Dito de outro modo, trata-se de experiências de aprendizado em que o professor mantém a condução da aula, mas faz isso de um modo envolvente, maximizando a atenção dos alunos e tentando torná-los ativos no processo de aprendizagem.

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Ainda assim, a verdade é que, qualquer que seja o modelo de aula, alunos pouco engajados tendem a aproveitar muito menos a experiência didática. No formato mais tradicional, isso costuma ser ainda pior para o estudante: alguns chegam a passar horas sentados em uma cadeira e, ao final, não terem aprendido quase nada.

Em parte, a responsabilidade por isso é do professor e da escola. No entanto, acreditamos que uma mudança de postura por parte dos alunos pode ser induzida por todos e decidida por ele próprio. Para tentar transformar posturas acomodadas em posturas ativas, precisamos de motivos e de dicas práticas. Comecemos pelos motivos, ou seja, pelos argumentos que podem ajudar a conscientizar os alunos:

Não há nada mais produtivo na aula do que a própria aula.

Comecemos por uma verdade simples: quer o aluno queira ou não, a verdade é que ele terá que passar muitas horas por dia na sala de aula, acompanhando professores em matérias interessantes ou tediosas. Partindo da premissa de que o professor está verdadeiramente engajado em dar uma aula relevante e interessante, a responsabilidade pelo aproveitamento deve ser dividida com o aluno. Então, se não será possível aproveitar melhor o tempo passado na sala, parece-nos simples levar o aluno a reconhecer que posturas inertes na aula (sonolência, distração com qualquer coisa, desenhos) são puro e simples desperdício de tempo. Nada será mais proveitoso do que tentar aprender o que está sendo ensinado.

A falta de atenção na aula será necessariamente cobrada em algum momento.

O segundo elemento de conscientização diz respeito ao prejuízo causado pela desatenção durante a aula. De novo, independentemente do “investimento” feito durante a aula, haverá cobrança, mais cedo ou mais tarde, do conteúdo ensinado: provas da escola, vestibulares ou até a vida profissional exigirão uma boa dose de conhecimento acumulado e habilidades desenvolvidas. É claro que, não tendo aprendido em aula, o estudante pode se dedicar e aprender depois. No entanto, fazer isso sozinho, na correria, às vésperas de uma prova não parece constituir uma estratégia inteligente. Paga-se com juros o que poderia ter sido poupado, aos poucos, durante as aulas.

Em síntese, poderíamos lembrar ao aluno que, ao não se concentrar em sala para aprender o máximo possível, ele não estará usando o tempo para algo mais produtivo e ainda terá que compensar esse déficit depois. Se, ao contrário, ele se esforçar por aproveitar o máximo cada aula, conseguirá um ganho duplo: conhecimento mais sólido e tempo de sobra para usar no que quiser. Em outras palavras, quem fica na aula pensando que poderia estar na praia geralmente fica sem tempo (ou consciência) livre para se divertir nas horas vagas.

Sem dúvida, pesquisas com ex-alunos bem-sucedidos nos estudos nos mostram um elemento em comum: são pessoas que se acostumaram a usar o tempo da aula para aprender. Alguns chegam a relatar que são “preguiçosos”, por incrível que pareça, e que usam essa estratégia justamente para “se livrar” de estudos posteriores. Ao contrário do que nos ensina o estereótipo, esses estudantes não deixam de se divertir ou aproveitar a vida. Sua administração do tempo permite que façam cada coisa a seu devido tempo.

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Feito o convencimento, passemos às dicas práticas. No cotidiano, essa mudança de postura pode ser facilitada por uma série de pequenas atitudes:

  1. Chegar cedo à sala para escolher um local em que se sinta mais envolvido na aula. Para alguns, isso significa sentar-se na primeira fileira, perto do professor; para outros, sentar atrás, tendo uma visão global da aula.
  2. Durante a aula, evitar ficar próximo aos amigos. Invariavelmente, queremos cultivar nossas relações com pessoas de quem gostamos, e isso acaba se transformando em conversa ou em troca de bilhetes. É preciso entender que os tempos de convívio para além da aula são muitos, e a amizade não diminuirá pela concentração durante as aulas.
  3. Conversar com os professores, pedindo apoio para essa mudança de postura: “Professor, eu estou tentando me manter mais atento às aulas e gostaria da sua ajuda. Será que você poderia chamar minha atenção, me fazer perguntas ou me ajudar de alguma forma nessa tarefa?” Acredite: professores gostam muito de ajudar estudantes que queiram aprender; aliás, essa é nossa verdadeira missão de vida!
  4. Complementando o item anterior, comunicar ao professor momentos em que está difícil se concentrar. Esse feedback pode ser muito útil para outros colegas também. Tendo estabelecido uma boa conexão com os professores e usando uma linguagem amigável, não há problema em “pedir uma pausa” de vez em quando.
  5. Tentar participar da aula, fazendo perguntas ou respondendo a perguntas do professor. É claro que os mais tímidos costumam temer essas situações, mas mesmo eles podem acabar se sentindo à vontade depois de algumas experiências desse tipo que se mostrem produtivas. Ou seja, se vencerem a barreira inicial da timidez e contarem com um professor compreensivo (previamente contatado e que, assim, evitará expor quem for mais tímido), verão que isso ajuda muito a manter a atenção, sem criar maiores riscos.
  6. Desligar o celular ou deixá-lo no modo silencioso, devidamente guardado na mochila, evitando o risco de querer “dar uma olhadinha” na tela de vez em quando. Um breve momento em que desviamos nossa atenção pode acabar fazendo com que percamos o “fio da meada”, e a retomada da sequência da matéria é sempre mais difícil do que o acompanhamento.
  7. Ao longo da aula, fazer anotações no caderno e/ou no livro didático. Já se sabe que o simples ato de escrever (resumidamente ou esquematicamente, se possível) aumenta muito a assimilação do que está sendo falado. É como se a escrita obrigasse nossa mente a ficar conectada com o conteúdo, evitando dispersões e devaneios.

O mais interessante da implementação dessas práticas por um período inicial (de quatro a seis semanas) é que o estudante perceberá mudanças positivas concretas em seu aprendizado. E aí, a percepção dessas mudanças é o elemento necessário à sua continuidade, como uma espécie de “efeito bola de neve do bem”.

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